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A JORNADA DE TRABALHO 6x1

Os sinos dobram, seria por boas notícias em 2025?

Proposta de emenda à Constituição quer acabar com escala de trabalho 6x1.

Somos todos e somos cada um que sofre e clama por justiça. Somos os Paulos, Marias e Pedros que se esgotam na rotina das jornadas de trabalho sem fim, somos as Sílvias, Raimundos e Anas que têm suas vidas abreviadas por acidentes e adoecimentos pelo trabalho. Na França, a decisão política de reduzir a jornada de trabalho padrão, de 39 para 35 horas semanais, trouxe benefícios sequer imaginados, como a também redução, em seis pontos percentuais, do tabagismo entre trabalhadores e aumento dos seus autocuidados com a saúde[1]. Excelente estudo de meta-análise[2] sintetizou 243 registros oriundos 46 artigos, com 814.084 participantes de 13 países, demonstrando que longas jornadas tiveram uma relação positiva com diversos problemas de saúde relacionados ao trabalho, como a curta duração e distúrbios no sono, fadiga e lesões. Outro artigo[3] estabeleceu, com base em convincentes evidências coletadas ao longo do tempo, que o trabalho em turnos e as longas jornadas estão frequentemente associados à recuperação insuficiente, aumentando o risco de sono ruim, fadiga, absenteísmo por doença, lesões ocupacionais e vários agravos crônicos, como doenças cardiovasculares e câncer. Estimativas conjuntas da Organização Internacional do Trabalho - OIT e da Organização Mundial da Saúde – OMS indicam que em análise global da perdas de saúde e vida  associadas a longas horas de trabalho, 398.000 pessoas morreram de acidente vascular cerebral e 347.000 de doença cardíaca em 2016, como resultado de realizarem jornadas de trabalho de pelo menos 55 horas por semana.


Entre os anos de 2000 e 2016 o número de mortes por doença cardíaca devido a longas horas de trabalho aumentou em 42% e as mortes por acidente vascular cerebral aumentaram em 19%. Portanto, as evidências não são novas e enfatizam os efeitos deletérios das longas horas de trabalho na saúde das pessoas. E apesar disso, a maioria dos brasileiros e brasileiras continua submissa a estes regimes.

Então, por que comemorar?


Há uma luz trêmula ao vento. A abolição da chamada jornada 6x1 é uma pauta política, após ter se tornado um fenômeno nas redes sociais, um avanço em tempos áridos de boas notícias no mundo do trabalho. O movimento que afirma o que deveria ser óbvio – o direito a uma vida além do trabalho - revelou-se maior que as instituições, maior que o Congresso Nacional, maior que o próprio Ministério do Trabalho e Emprego, berço empobrecido de ideias e iniciativas. Por que não questionar uma Reforma Trabalhista tão nefasta à justiça e ao equilíbrio social, ainda não revertida, ao menos em parte, como ocorreu em outros países?


Combater a exposição a longas jornadas é o caminho natural para que uma sociedade não partilhe apenas pólvora e grilhões aos trabalhadores. Há um tempo de refletir, assim como um tempo para agir. Quem sabe em 2025, sob os auspícios dos orixás e de todos os santos das justas causas, a trêmula luz não se torne uma chama.


Em 21 de dezembro do ano da graça de 2024.


 

 INSTITUTO TRABALHO DIGNO

 

 


[1] Berniell, Inés et al., The effect of working hours on health. Economics & Human Biology, volume 39, Elsevier, 2020.

[2] Wong K, Chan AHS, Ngan SC. The Effect of Long Working Hours and Overtime on Occupational Health: A Meta-Analysis of Evidence from 1998 to 2018. Int J Environ Res Public Health. 2019 Jun 13;16(12):2102. doi: 10.3390/ijerph16122102. PMID: 31200573; PMCID: PMC6617405.

[3] Härmä M, Kecklund G, Tucker P. Working hours and health - key research topics in the past and future. Scand J Work Environ Health. 2024 May 1;50(4):233-243. doi: 10.5271/sjweh.4157. Epub 2024 Mar 18. PMID: 38497926; PMCID: PMC11129786.

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